Nova cartografia Social: conhecimento e mobilização.

Nova cartografia Social: conhecimento e mobilização.
  • Franklin Plessmann de Carvalho; Mirna Silva Oliveira; Jaziel dos Santos Silva; Genival Pereira Araújo Moura; Jakeline Honoria de Souza; Edvando Jesus Vieira
  • Esta é uma série de mapas que representam cartografias sociais realizadas com comunidades de fundos e fechos de pasto, entre os anos de 2008 a 2024. Estes mapas representam a luta de famílias pela defesa de suas terras tradicionalmente ocupadas, Representam modos de vida que conformam territorialidades específicas e marcam relações próprias destas comunidades com a natureza.

  • imagem maestra) Mapa das Comunidades de Fundo de Pasto do Lago de Sobradinho – Nosso jeito de viver no sertão (2008)

    1) Mapa Nossa Vida e Nossa História no Sertão – Comunidades de Fundo de Pasto de Brotas de Macaúbas e Oliveira dos Brejinhos (2012)

    2) Nova Cartografia Social do Fecho de Pasto do Brejo Verde (2018)

  • Estes mapas são cartografias sociais elaboradas por famílias que pertencem à comunidades de fundos e fechos de pasto. Estas comunidades articulam-se em torno de ações de resistência para assegurar a posse e uso de suas terras, que são alvo de estratégias empresariais, especialmente ligadas à atividades do agronegócio, mineração e parques de geração de energia eólica e solar. As estratégias empresariais visam a comercialização das terras, dos recursos florestais e do subsolo das terras tracicionalmente ocupadas pelas famílias. As ações de resistência das comunidades de fundos e fechos de pasto objetivam, principalmente, pressionar o Estado para o reconhecimento de direitos territoriais e os mapas descrevem territorialidades específicas de famílias de distintas regiões da Bahia, Brasil. Famílias organizadas para garantir o direito da criação de animais nas terras soltas, isto é, em áreas abertas ao uso comum, com destaque para a criação de bodes e ovelhas nos fundos de pasto, e de bovinos, nos fechos de pasto. Essa forma de criar os animais é um costume diretamente relacionado ao modo de vida das famílias, que estabelecem relações próprias com a natureza.
    As cartografias socials aqui represemntadas denunciam que o Estado tem sido um dos principais aliados da expansão dos empreendimentos econômicos que pretendem as mesmas terras reivindicadas pelas comunidades de fundos e fechos de pasto. Pode-se afirmar que o Estado pouco executa os procedimentos que ele próprio elaborou e, quando o faz, acolhe uma série de justificativas que visam interromper a conclusão dos processos administrativos. Assim, um dos focos dos mapeamentos foi fortalecer as ações de resistência empreendidas pelas comunidades. A construção de cartografias sociais qualificando as ações de povos e comunidades tradicionais. As oficinas de cartografia social, que deram base a estes mapas, articularam um diálogo de conhecimentos tradicionais, militantes e acadêmicos. Representam os impactos sentidos pelas unidades de mobilização dos agentes sociais que pertencem a comunidades de fundos e fechos de pastos. Estas cartografias também objetivaram mapear as estratégias de implantação de unidades de geração energia e seus impactos sobre as comunidades. São recorrentes as situações observadas na qual algum impacto ocorre, como nas counidades que foram atingidas pelos barramentos de rios, pela implantação de parques eólicos e solares, pela expansão de termoelétricas a base de combustíveis fósseis ou mesmo de biocombustíveis, ou pela ameaça da construção de uma central nuclear no Vale do Rio São Francisco. Especificamente, ao mapear a implantação de parques eólicos ou solares, usinas hidrelétricas, fontes consideradas “limpas”, os mapas permitem analisar como que a dita transição energética, em marcha ao longo do mundo, está sendo implantada na Bahia.
    A crítica ao uso de combustíveis fósseis alimenta a busca por outras possibilidades de geração de energia, alimentada por uma argumentação relacionada às mudanças climáticas, ao aquecimento global, como os tantos casos de contaminação de ar, água e terras, mostram como que o uso dos combustíveis fósseis deve ser reduzido como forma de geração de energia. Mais recentemente, outra fonte de energia, a eólica, vem despontando na liderança relacionada a transição energética. Novos mapa estão sendo construídos e que representam situações nas quais a instalação de parques de energia eólica acarretou alterações significativas em modos de vida das comunidades de fundos de pasto. A instalação destes parques está estimulando a especulação imobiliária e desencadeando conflitos. O governo da Bahia está facilitando a regularização fundiária em terras de interesse para a implantação dos parques eólicos. Construí-se normativas que estão colidindo com direitos territoriais de comunidades, e a “Articulação Estadual de Comunidades de Fundos e Fechos de Pasto” vem denunciando que a implantação destes parques está ocorrendo sem que sejam realizadas as consultas prévias e informadas junto às comunidades impactadas pelos empreendimentos, como bem determina a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho. Os movimentos sociais querem que as comunidades façam parte do processo de tomada de decisão sobre as condições de implantação destes parques, com condições de avaliarem os impactos sobre o território e o meio ambiente.