Os deletados do mapa : Bacurau (filme, Brasil)

A proposta parte de uma obra artística, o filme Barucau (2019), para refletir sobre o sentido político dos deletamentos, apagamentos e sumiços dos mapas.

Cartaz oficial do filme Bacurau (2019)

Trecho do filme: professor procurando a cidade no mapa

Sabe-se, com as reflexões produzidas em torno da cartografia social, o quanto é importante aparecer nos mapas para se tornar visível, existir aos olhos do mundo e das administrações. O desafio, então, é produzir mapas, posicionar-se neles, delimitar territórios e representar as métricas dos processos sociais e ambientais. Mas o que acontece quando ocorre o fenômeno inverso? Quando, existindo plenamente, somos apagados dos mapas sem aviso, brilhando apenas pela ausência? Que sentido dar ao apagamento?
Essa é a questão colocada pelo filme Bacurau, uma ficção distópica de fundamentação altamente política, ao colocar no centro da trama a maneira como as tecnologias de vigilância e localização são usadas a serviço de uma violência racista e libertáriana vinda diretamente dos EUA. Quando Bacurau, um pequeno vilarejo que poderia se situar no Nordeste brasileiro, deixa de existir em um mapa interativo online, o professor olha para seus alunos com um ar desconcertado. Aos poucos, compreendemos que esse desaparecimento virtual precipita a vulnerabilidade de um vilarejo jogado à mercê de caçadores de humanos sanguinários. À frieza implacável das tecnologias e de seus detentores, opõe-se a resistência improvisada de um povoado com fortes traços libertários, cujos principais recursos são a heterogeneidade social, a solidariedade e a (nem sempre) doce loucura. Para além da ficção, o filme pode contribuir para as reflexões sobre os apagamentos cartográficos, que muitas vezes revelam relações de poder profundamente desiguais.

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